A ondamarela dinamizou, para o Festival Vapor, no Entroncamento, a performance “Nuvem de Futuro”, com cerca de 3 dezenas de pessoas de todas as idades, desta cidade. A partir da ideia de “Fantasiar o Futuro”, discutiram-se fenómenos, dúvidas e certezas, perguntas e mitos. Também se discutiu a cidade, as suas características, necessidades, as vontades dos seus habitantes de agora e de há muito. Na fase de construção participaram ainda as crianças das “Férias Desportivas”, que criaram notícias do futuro e a base musical para um dos temas.
A nuvem, a indefinição, o “será que…”, o “talvez”, com o mote do Desassossego de Fernando Pessoa, foram o esteio de toda a performance, que se apresentou no derradeiro dia do Festival, 29, ao longo do recinto do Festival, mas terminando no Palco Telheiro. Um processo muito bonito, de grande aprendizagem, com um grupo espantoso de pessoas. Obrigado a todos.
Névoa ou Nuvem? Subia da terra ou descia do céu? Não se sabia. Era mais como uma doença do ar que uma descida ou uma emanação. Por vezes, parecia mais uma doença dos olhos do que uma realidade da natureza.
Fosse o que fosse, ia por toda a paisagem uma inquietação turva, feita de esquecimento e de atenuação. Era como se o silêncio do sol tomasse para seu um corpo imperfeito. Dir-se-ia que ia acontecer qualquer coisa e que por toda a parte havia uma intuição pela qual o visível se velava. Era difícil dizer se o céu tinha nuvens ou antes névoa, era um torpor baço, um acinzentamento imponderavelmente amarelado, salvo onde se esboroava em cor de rosa falso ou onde estagnava azulescendo, mas aí também não se distinguia se era o céu que se revelava, se era outro azul que o encobria.
Nada era definido, nem indefinido. Por isso apetecia chamar nuvem à névoa por ela não parecer névoa ou perguntar se era névoa ou nuvem por nada se perceber do que era.
Bernardo Soares (Fernando Pessoa) Livro do Desassossego
Fotos de João Roldão
1 de Outubro de 2024